¨Hj estou distraída em relação à vida que me preenche,Distraídaa em relação à vida que me rodeia.Não vou cair, como caiu meu irmão que sofre por um único ser humano, quando existem milhões no mundo. Além de tudo, não é assim tão ruim viver só.Eu fico bem, decidindo a cada instante o que desejo fazer, e graças à solidão conheço-me… o que é fundamental para viver.Não faço o que fez meu pai, que se sente velho porque tem 40 anos, e esquece que Moisés comandou o Êxodo aos oitenta e Rubinstein interpretava Chopin com uma maestria sem igual aos noventa, para citar apenas dois casos conhecidos.Não estou deprimida, estou distraída. Por isso acredito que perdi algo, o que é impossível, porque tudo me foi dado. Não fiz um só fio de cabelo da minha cabeça, portanto não sou dona de coisa alguma.Além disso, a vida não me tira coisas: me liberta de coisas… Me alivia para que eu possa voar mais alto, para que eu alcance a plenitude.vivo numa escola; por isso, o que chamo de problemas são apenas lições. Faço apenas o que amo e sou feliz. Aquele que faz o que ama, está benditamente condenado ao sucesso, que chegará quando for a hora, porque o que deve ser será, e chegará de forma natural.Não faço coisa alguma por obrigação ou por compromisso, apenas por amor. Então tenho plenitude, e nessa plenitude tudo me é possível sem esforço, porque sou movida pela força natural da vida, Deus me tornou responsável por um ser humano, que sou eu.. Devo trazer felicidade e liberdade para mim mesma. E só então poderei compartilhar a vida verdadeira com todos os outros.E lembro-me: "Amarás ao próximo como a ti mesmo". Reconcilio-me comigo, coloca-me frente ao espelho e penso que a criatura que vejo, é uma obra de Deus, e decido neste exato momento ser feliz, porque a felicidade é uma aquisição.Aliás, a felicidade não é um direito, mas um dever; porque se eu não for feliz, estarei levando amargura para todos os meus vizinhos.Um único homem que não possuiu talento ou valor para viver, mandou matar milharesde judeus, seus irmãos.Existem tantas coisas para experimentar, e a nossa passagem pela terra é tão curta, que sofrer é uma perda de tempo. E se estás doente, podem acontecer duas coisas, e ambas são positivas: se a doença ganha, te liberta do corpo que é cheio de processos (tenho fome, tenho frio, tenho sono, tenho vontades, tenho razão, tenho dúvidas)... Se tu vences, serás mais humilde, mais agradecido... Portanto, facilmente feliz, livre do enorme peso da culpa, da responsabilidade e da vaidade, disposto a viver cada instante profundamente, como deve ser.Não estou deprimida, estou desocupada.Ajudo a criança que precisa de mim, essa criança que será sócia do meu filho. Ajudo os velhos e os jovens me ajudarão quando for minha vez. Aliás, o serviço prestado é uma forma segura de ser feliz, como é gostar da natureza e cuidar dela para aqueles que virão. Dá sem medida, e receberás sem medida.Amo até me tornar amada; mais ainda converto-me no próprio Amor.E não te deixes enganar por alguns homicidas e suicidas.O bem é maioria, mas não se percebe porque é silencioso. Uma bomba faz mais barulho que uma caricia, porém, para cada bomba que destrói há milhões de carícias que alimentam a vida. Vale a pena, não é mesmo?Se Deus possuísse uma geladeira, teria a tua foto pregada nela. Se ele possuísse uma carteira, tua foto estaria nela. Ele te envia flores a cada primavera. Ele te envia um amanhecer a cada manhã. Cada vez que desejas falar, Ele te escuta. Ele poderia viver em qualquer ponto do Universo, mas escolheu o teu coração. Encara, amigo, Ele está louco por ti!Deus não te prometeu dias sem dor, riso sem tristeza, sol sem chuva, porém Ele prometeuforça para cada dia, consolo para as lágrimas, e luz para o caminho.“Quando a vida te trouxer mil razões para chorar, mostra que tens mil e uma razões para sorrir”
Texto de Suilaine Barbosa Freitas
domingo, 18 de outubro de 2009
domingo, 11 de outubro de 2009
Paralisia Cerebral, Limitação? Leia e Reflita.
Perfeição: um conceito grego dos mais cruéis, gerador deste mundo ocidental, onde todos buscamos ser titãs. Com todo o respeito que tenho à filosofia e estética grega, preciso dizer que perfeição é uma fantasia neurótica. Ansiamos por um mundo perfeito e deixamos de celebrar a imperfeição – única tábua de salvação capaz de levar à completude. Eis o paradoxo. A imperfeição nos torna completos, adrenalizados e desafiados pelo diferente, pelo desalinho, pela desorganização e pelo improviso. Os “gregamente” perfeitos, coitados! São condenados à solidão, porque pretendem de nada ou de ninguém necessitar.
Há rara beleza na imperfeição.
Vinha eu na calçada. Um rapaz de andar trôpego olhou para mim e acertou seu passo em minha direção. Como qualquer habitante das cidades brasileiras, acostumados ao assédio de pedintes e, muito frequentemente, de golpistas, preparei-me emocionalmente para o encontro. Ele, educadamente, cumprimentou-me e disse com muita dificuldade:
- Não vou lhe pedir nada. Eu trabalho! Fabrico estas camisas. Por favor, dê uma olhada. Se gostar de alguma, custa…
Em uma fração de segundos, aquilo que era desconfiança converteu-se em profunda admiração, numa dessas viradas que somente a imperfeição da vida pode nos dar.
Fascinou-me a ideia de um rapazinho, com as limitações da paralisia cerebral, não se esconder em seus problemas; antes, enfrentar a vida de peito aberto.
Senti-me humilhado; constrangido por ser eu mesmo. Mas com muito prazer comprei a tal camiseta.
Algum tempo depois, conheci outro paralisado cerebral e fiquei mais uma vez surpreso. Pela primeira vez, tive a oportunidade não apenas de conhecer a atitude, mas a alma de uma pessoa com paralisia cerebral. Kylber Alves é uma pessoa encantadora que testemunhou o que significa viver com a paralisia cerebral, com o olhar de quem tem experiência no mundo dos “perfeitos”. É um texto rico, que transcrevo abaixo:
“A diferença dentro da diferença
Assim é como defino a paralisia cerebral, pela qual fui afetado no parto por falta de médicos. A realidade é que este fato tem me obrigado a viver fora de uma normatização da sociedade, ou pelo menos a me adaptar para melhor buscar meus objetivos, mais precisamente a minha felicidade. Na sociedade em que vivemos o que vale é a perfeição. Incorporamos a cultura do belo, fruto de uma herança que acompanha a própria evolução da humanidade. Posso citar o grande filósofo Platão, para o qual as pessoas portadoras de deficiência, as PPDs não possuíam alma. O PC (PARALISADO CEREBRAL) é um caso interessante e instigante, pois consegue ver o mundo como ele é, mas o mundo não consegue vê-lo em sua essência; o PC é como um caso de diferença dentro da diferença, talvez o mais estigmatizado entre os PPDs. Muitas vezes somos confundidos, pela dificuldade motora e problema de dicção, com um deficiente mental ou um bêbado. Isso acarreta inúmeras consequências para a vida pessoal de um PC; a sexualidade e a afetividade ficam comprometidas não por falta de capacidade, mas por falta de sensibilidade e compreensão do companheiro ou companheira. As dificuldades são ainda maiores quando se trata do campo profissional, pois o PC se tornou quase não empregável, salvo raras e louváveis exceções.
Mudar uma mentalidade de séculos é, na verdade, uma tarefa bastante difícil e complexa, mas não esqueçamos que grandes saltos da humanidade partiram das situações de diferenças e da busca de suas superações, hoje, nosso grande desafio.”
Com todas as suas limitações físicas e, contra todas as limitações impostas pela arquitetura, pelos meios de transporte, imposições sociais do mundo dos perfeitos, ele graduou-se em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará. Gente assim é uma denúncia viva e lúcida no mundo dos “perfeitos”, a dizer que imperfeitos somos nós, os que temos paralisia de alma.
Domingos Alves
Há rara beleza na imperfeição.
Vinha eu na calçada. Um rapaz de andar trôpego olhou para mim e acertou seu passo em minha direção. Como qualquer habitante das cidades brasileiras, acostumados ao assédio de pedintes e, muito frequentemente, de golpistas, preparei-me emocionalmente para o encontro. Ele, educadamente, cumprimentou-me e disse com muita dificuldade:
- Não vou lhe pedir nada. Eu trabalho! Fabrico estas camisas. Por favor, dê uma olhada. Se gostar de alguma, custa…
Em uma fração de segundos, aquilo que era desconfiança converteu-se em profunda admiração, numa dessas viradas que somente a imperfeição da vida pode nos dar.
Fascinou-me a ideia de um rapazinho, com as limitações da paralisia cerebral, não se esconder em seus problemas; antes, enfrentar a vida de peito aberto.
Senti-me humilhado; constrangido por ser eu mesmo. Mas com muito prazer comprei a tal camiseta.
Algum tempo depois, conheci outro paralisado cerebral e fiquei mais uma vez surpreso. Pela primeira vez, tive a oportunidade não apenas de conhecer a atitude, mas a alma de uma pessoa com paralisia cerebral. Kylber Alves é uma pessoa encantadora que testemunhou o que significa viver com a paralisia cerebral, com o olhar de quem tem experiência no mundo dos “perfeitos”. É um texto rico, que transcrevo abaixo:
“A diferença dentro da diferença
Assim é como defino a paralisia cerebral, pela qual fui afetado no parto por falta de médicos. A realidade é que este fato tem me obrigado a viver fora de uma normatização da sociedade, ou pelo menos a me adaptar para melhor buscar meus objetivos, mais precisamente a minha felicidade. Na sociedade em que vivemos o que vale é a perfeição. Incorporamos a cultura do belo, fruto de uma herança que acompanha a própria evolução da humanidade. Posso citar o grande filósofo Platão, para o qual as pessoas portadoras de deficiência, as PPDs não possuíam alma. O PC (PARALISADO CEREBRAL) é um caso interessante e instigante, pois consegue ver o mundo como ele é, mas o mundo não consegue vê-lo em sua essência; o PC é como um caso de diferença dentro da diferença, talvez o mais estigmatizado entre os PPDs. Muitas vezes somos confundidos, pela dificuldade motora e problema de dicção, com um deficiente mental ou um bêbado. Isso acarreta inúmeras consequências para a vida pessoal de um PC; a sexualidade e a afetividade ficam comprometidas não por falta de capacidade, mas por falta de sensibilidade e compreensão do companheiro ou companheira. As dificuldades são ainda maiores quando se trata do campo profissional, pois o PC se tornou quase não empregável, salvo raras e louváveis exceções.
Mudar uma mentalidade de séculos é, na verdade, uma tarefa bastante difícil e complexa, mas não esqueçamos que grandes saltos da humanidade partiram das situações de diferenças e da busca de suas superações, hoje, nosso grande desafio.”
Com todas as suas limitações físicas e, contra todas as limitações impostas pela arquitetura, pelos meios de transporte, imposições sociais do mundo dos perfeitos, ele graduou-se em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará. Gente assim é uma denúncia viva e lúcida no mundo dos “perfeitos”, a dizer que imperfeitos somos nós, os que temos paralisia de alma.
Domingos Alves
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